“Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente” é inspirado no personagem dos quadrinhos criado por Angeli
O filme Bob Cuspe –
Nós Não Gostamos de Gente se passa dentro e fora da mente de Angeli –
Foto/Divulgação: Coala Filmes
A geração da década
de 1980 deve lembrar que nas páginas da revista Chiclete com Banana havia um
protagonista de óculos escuros, vestido de fiapos, com piercing e penteado
moicano – o icônico Bob Cuspe. Ele era contra o sistema e a elite, mas,
diferente de vários fãs, não tinha utopias revolucionárias nem era militante.
Respondia de forma ácida, até com cuspe. Agora, o personagem de Angeli sai dos
quadrinhos e vai para as telonas francesas. O longa-metragem Bob Cuspe – Nós
Não Gostamos de Gente, dirigido por Cesar Cabral – formado pela Escola de
Comunicações e Artes (ECA) da USP –, concorre no Festival Internacional de
Cinema de Animação de Annecy, o mais importante festival de cinema de animação
do mundo.
“É uma conquista
muito grande tanto para o meu trabalho como para o audiovisual brasileiro ter
esse destaque. É gratificante”, conta Cesar Cabral sobre a seleção do seu
primeiro longa-metragem para a 60ª edição do festival, agendada para os dias 14
a 19 deste mês, presencialmente e on-line. No Brasil, a estreia está prevista
para final de 2021 ou começo de 2022.
Não é a primeira vez
que o sócio-fundador da Coala Filmes, estúdio de animação referência em
stop-motion no Brasil, se inspira no universo de Angeli. Em 2007, foi exibida
no Canal Brasil a série de TV Angeli The Killer, com sequências animadas em
stop-motion acompanhando uma longa entrevista concedida pelo artista. Já para
Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente, foram 30 horas de entrevista para “expor
o espírito que mantém a obra do quadrinista”, relata o diretor. Stop-motion é a
técnica que usa uma sequência de fotografias diferentes de um mesmo objeto para
simular o seu movimento.
O resultado foi um
filme que mostra dois universos em paralelo: dentro e fora da cabeça de Angeli.
Enquanto o quadrinista vive no estúdio em São Paulo, em sua mente há um cenário
de deserto apocalíptico, como se fosse um vazio de ideias. Nesse futuro distópico,
Bob Cuspe tenta exterminar mini-Elton-Johns mutantes, mas estes acabam se
multiplicando a cada tentativa. Cabral explica que eles são símbolos do pop
devorando o punk, representam as distopias massacradas pelo mundo e pelo
capitalismo. Embora esteja mais velho, Bob Cuspe mantém o espírito punk vivo e
busca enfrentar esse mundo.
Numa espécie de filme
de estrada, o punk paulistano tenta sobreviver com poucos sobreviventes do
apocalipse, os irmãos Kowalski, personagens mais recentes do cartunista, e tenta
encontrar seu autor. Cabral descreve a obra como um embate entre criador e
criatura, em que não consegue discernir muito bem onde começa o autor e onde
termina o personagem.
O longa-metragem tem
uma hora e meia de duração. Cabral explica como foi o processo de criação da
obra, que durou cinco anos: “Primeiro teve um ano de pré-produção, em que
elaboramos os desenhos, o roteiro, a decupagem de cenas e a construção de
cenários. Depois fizemos a produção em set de filmagem, com modelagens. Em
algumas partes usamos a técnica de 3D, com a impressora 3D. É um processo muito
lento porque o filme é composto de várias fotos”. A animação stop-motion ainda
é enriquecida não apenas com o humor de Angeli, mas também pelos seus traços.
Fonte: https://jornal.usp.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário