Editora: independente – Edição
especial
Autor: Camilo Solano (roteiro e
arte).
Preço: R$ 28,00
Número de páginas: 60
Data de lançamento: Setembro de 2015
Sinopse
Juca é um típico introspectivo que vive
em total desengano das pessoas, dos momentos e dos amores. Como todo jovem, não
sabe o seu lugar no mundo e tem pressa para descobrir essas respostas.
Não é dos mais chegados ao Carnaval, às
suas farras e foliões. Assim, no período da festa, sai de São Paulo com a
família para a cidade interiorana dos avós, e decide passar o feriado sozinho.
Positivo/negativo
Camilo Solano é um romântico e faz de Desengano sua
declaração de amor. Seu quarto trabalho (depois dos ótimos Inspiração, Onde
eu tavo? e Captar, este em uma parceria bem-sucedida com
Thobias Dane luz) acompanha Juca Bertozo, um óbvio alter ego do autor, em uma
viagem familiar a São Manuel, sua cidade natal, para fugir do carnaval da
capital paulistana.
O protagonista é melancólico e
introspectivo (“com os olhos tristes, fundos e amargurados”, segundo a avó), o
que contrasta com o tom jocoso e anárquico como sua família é retratada.
São pessoas simples e de hábitos comuns.
Gente real. Pessoas que comem paçoquinha
escondidas dos cônjuges, que zombam umas das outras na mesa de jantar, passam o
tempo inteiro na cozinha, riem e brigam sempre que podem. São personagens
tridimensionais, de fácil identificação com o leitor, tornando aquele
microcosmo familiar interiorano algo muito próximo e empático. E isso reforça o
distanciamento e a sensação de inadequação de Juca à família.
Outra personagem importante da trama é a
pitoresca São Manuel, descrita como estereótipo de uma cidade pequena, com seus
moradores e hábitos peculiares, onde se compra no mercadinho e os rapazes
impressionam as moças usando o som automotivo nas alturas.
Novamente, a presença e o humor de Juca
contrastam com o ambiente. Ele é quase como um invasor indesejado, reforçando a
sua estranheza àquele meio, que já lhe foi tão presente outrora. Como um
pássaro perdido em seu próprio ninho.
E, por fim, o Carnaval e seus tipos (com
direito à participação de vários profissionais do mercado de quadrinhos, como o
editor Sidney Gusman e o quadrinhista Luciano Salles, dentre outros), com seus
excessos e suas alegorias, fazendo um contraponto excelente ao confinamento de
Juca em seu mundo interior.
É aqui que o embate entre a introspecção
do protagonista e a exuberância festiva ganha mais força, ocorrendo finalmente
o momento de ruptura na vida do protagonista. É quando suas crenças e ideias
são postas em xeque, devido aos eventos inesperados que o carnaval tão evitado
pode reservar. Será?
O texto flui muito bem durante a
narrativa e explora com profundidade as características e inconstâncias do
neurótico Juca nesse momento de insight e autodescoberta.
O traço de Solano está amadurecido e
consistente, com exageros e deformações muito bem-vindas, tomando um rumo
diferente do que se vê habitualmente no mercado nacional. E a paleta de cores
fortes é bem escolhida e casa bem com o tom da arte.
A edição tem capa cartonada, com detalhes
em verniz e orelhas e papel off-set de boa gramatura. E traz o
prefácio de ninguém menos que Robert Crumb, o papa do quadrinho underground,
algo que foi amplamente divulgado pela mídia especializada nacional.
Crumb e Solano se conhecerem alguns anos
atrás, em uma edição da FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty,
no Rio de Janeiro, e devido ao amor por quadrinhos e música passaram a trocar
correspondências desde então.
O prefácio é generoso e respeitoso, como
um bom amigo faria (e Camilo fez a gentileza de publicá-lo também na língua
original). Também há um posfácio do autor e um making-of que
revela a concepção da bela capa.
Como foi dito no começo desta análise,
Camilo Solano fez de Desengano sua declaração de amor. À sua
mulher, à sua família, às suas raízes, a São Manuel, aos bidês (!) e,
principalmente, veja só, ao Carnaval e ao que ele representa. Fonte: http://www.universohq.com/. EMT -
Divulgação
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