Cinquenta anos não bastaram para fechar
as feridas do golpe de 1964. Ao contrário de outros momentos históricos no
Brasil — como o Golpe de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932 —, que
foram assimilados pela sociedade, aquele 31 de março deixou sequelas. São
memórias que são reavivadas quando, em pleno ano de 2014, um procurador da República conclama uma intervenção militar, manifestantes pedem a volta da ditadura ou a luta contra a violência no período é considerada “merda”.
“Ainda hoje temos reflexos no momento
político”, lembra o jornalista Oscar Pilagallo, autor de obras como História
da Imprensa Paulista e A História do Brasil no Século 20.
“Este mês [no dia 10] vai ser divulgado o relatório da Comissão Nacional
da Verdade sobre crimes cometidos na ditadura. Ou seja, [o golpe] é algo
presente ainda hoje.”
Por aquele período tortuoso da nossa
história ainda estar em voga, Pilagallo fez parceria com o artista Rafael
Campos Rocha (autor de Deus, Essa Gostosa), e ambos acabam de
lançar O Golpe de 64, uma história em quadrinho que narra
os momentos decisivos que culminaram na chegada dos militares ao poder. A obra
começa com o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, e percorre o caminho vivido
pelo País até a derrubada do presidente João Goulart uma década depois.
“Aquele foi um período de vigilância e tutela
do capitalismo internacional, principalmente norte-americano, sobre os países
latino-americanos”, afirma Rocha. “Tinha a ver com a revolução cubana, com o
bloco soviético também e com o crescimento econômico global. O cenário hoje é
diferente, apesar de derivado daquele.”
Pilagallo também observa diferenças nos
cenários das duas épocas. “Em 1964 existia uma polarização mundial: Guerra
Fria, capitalismo e socialismo… O Brasil era uma democracia naquele tempo, mas
sem a mesma abrangência da democracia que vemos hoje. Era algo incipiente”,
lembra. Esta lacuna entre os conceitos de democracia — pré-golpe e
pós-Diretas-Já — torna improvável que a voz dos descontentes que pedem o
retorno dos militares seja ouvida. “A polarização que hoje existe no Brasil não
considera o fato de que os dois grandes partidos são parecidos. Ambos têm muito
em comum.”
Rocha vê algo positivo nos atuais
protestos de extrema direita: sinal de que houve avanços sociais. “O Brasil é
um país racista e conservador que sustenta uma das maiores desigualdades
sociais do mundo. Sua burguesia é praticamente iletrada e não quer ceder nenhum
direito às outras classes. Por ela, voltaríamos com a escravidão. Por tudo
isso, acho que as reações violentas dessa direita são um bom sinal. Sinal de
que houve avanços nos direitos LGBT, na aceitação do negro e da mulher como
iguais na sociedade, na qualidade de vida de quem vive nas regiões norte e
nordeste do País…”
Se o golpe se repetir como desejam os
conservadores, ao menos teremos uma certeza trazida por Hegel e Marx: “A
História repete-se sempre, pelo menos duas vezes: a primeira vez como tragédia,
a segunda como farsa”. Segundo informações do Brasil Post. .”
Fonte: http://zinebrasil.wordpress.com/.
EMT - Divulgação
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